A gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós
mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de
um gesto, mas que ela sempre aparece e
devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na
tristeza, que vem do fato de ainda
conseguirmos
senti-la.
senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento.
Olhe para o lado: estamos vivendo
numa era
em que pessoas matam em briga de
trânsito,
matam por um boné, matam para se
divertir.
Além disso, as pessoas estão sem
dinheiro.
Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura.
Os que possuem um amor desconfiam
até da própria sombra,
já que há muita oferta de sexo no
mercado.
E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio,
não consegue mais ficar deitado
numa rede,
lendo um livro, ouvindo música.
Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo,
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo,
mesmo que não seja uma euforia,
um gozo, um entusiasmo,
mesmo que seja uma melancolia.
Sentir é um verbo que se conjuga para dentro,
ao contrário do fazer, que é
conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta.
Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa.
O sentir não pode ser escutado,
apenas auscultado.
Sentir e fazer, ambos são necessários,
mas só o fazer rende grana,
contatos, diplomas, convites,
aquisições.
Até parece que sentir não serve
para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada.
Não cabe no mundo da propaganda
dos cremes dentais,
dos pagodes, dos carnavais.
Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa,
um estacionamento proibido.
Ok, tristeza não faz realmente
bem pra saúde,
mas a introspecção é um recuo
providencial,
pois é quando silenciamos que
melhor conversamos com nossos
botões.
E dessa conversa sai luz, lições, sinais,
e a tristeza acaba saindo também,
dando espaço para uma alegria
nova e revitalizada.
Triste é não sentir nada.
Triste é não sentir
nada
Título original deste
texto: Alegria na tristeza
Autora: Marta
Medeiros
Nota:
O título desse texto na verdade não é de Marta
Medeiros, e sim de um poema do uruguaio Mario
Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e
está no livro "La vida ese paréntesis" que, segundo a autora, permanece
inédito no Brasil.
Tags:
Triste, alegria, La Vida ese paréntesis, alegría de la tristeza, Mario Benedetti.