Papai Noel, Contar ou não Contar sua identidade para as Crianças?

Em Dezembro as festividades natalícias começam a ser preparadas e as crianças , mais do que ninguém, ficam ansiosas, afinal  de contas Papai Noel está chegando com um saco cheio de presentes para distribuir entre aqueles que se comportaram bem. Entretanto, no meio desse clima de alegria surge a temida questão: Contar ou não contar  a identidade do Papai Noel para as crianças?

Mas como seria o Natal se não houvesse a magia ou a ilusão do Papai Noel?

Não haveria a magia e o brilho no olhar das crianças ansiosas para; descobrir o que o bom velhinho deixou debaixo da árvore;

Não haveria a alegria ou choradeira das crianças ao sentarem no colo do bom velhinho; 
               
☺ Não haveria mais a correria das renas com o bom velhinho para que o bom velhinho não chegue atrasado;

E com certeza, nós, os grandinhos, não estaríamos correndo para driblar as dificuldades e poder proporcionar esse momento de magia aos pequeninos.

A criação do Papai Noel, embora  seja uma figura mítica, é em parte baseada em um bispo chamado São Nicolau de Mira que viveu no século IV. O sorridente Papai Noel que encanta as crianças foi elaborado nos últimos 17 séculos com elementos de mitos de diversas regiões e países.

No século XVII, emigrantes holandeses levaram a tradição de Sinterklaas para os Estados Unidos, cujos habitantes adaptaram o nome para Santa Claus, mais fácil de ser pronunciado. Criaram uma nova lenda, consolidada no século XIX,  sobre um velhinho alegre e bonachão que no Natal percorria o mundo em seu trenó distribuindo presentes.

A tradição estendeu-se por vários países, em alguns dos quais com nomes diferentes: Nos Estados Unidos conhecido como Santa Claus; no Reino Unido como Father Christmas (Papai Noel); na  França virou Père Noël; na Espanha  Papá Noel; em Portugal é chamado de Pai Noel e nós, os brasileiros, o chamamos de Papai Noel ou mais carinhosamente bom velhinho.

O fato é que o bom velhinho, baseado no bispo Nicolau,  tornou-se rapidamente o símbolo do Natal,  estimulando a fantasia infantil e, consequentemente, ganhou  destaque em centros comerciais de todo o mundo tornando-se um ícone do comércio de presentes de Natal, que envolve anualmente bilhões de dólares.

Na verdade, há muitas versões diferentes da lenda de São Nicolau, mas todas representam, de uma forma ou de outra,  a inspiração para o alegre distribuidor de presentes para todas as crianças do mundo que com seu traje vermelho torna o Natal divertido e mágico. Vale lembrar que o visual moderno do Papai Noel com  roupas vermelhas e gorro com barrete branco  é atribuído a uma invenção da Coca-Cola, que nos anos 30 promoveu uma campanha repaginando o Bom Velhinho com as cores oficiais de seu produto.

Segundo especialistas, as figuras mitológicas criadas na infância pela nossa cultura fazem bem às crianças, porque além de proporcionarem uma infância mais feliz e cheia de imaginação, também oferecem outras representações simbólicas, já que na visão das crianças é o Papai Noel quem vai se esforçar para atender os pedidos das crianças que tiverem um bom comportamento.

O fato é que no mês de dezembro, em meio a tanta magia, uma das dúvidas mais comuns dos pais é se continuam ajudando a escrever cartas para o Papai Noel,  participando, indiretamente, dessa fantasia com suas crianças ou se contam a verdade sobre a identidade do bom velhinho?

Na realidade não há uma idade determinada,  já que cada criança  é única e enquanto é pequena costuma ser muito fantasiosa, pois o que ela ouve e vê, existe de verdade, portanto realidade e fantasia se confundem— é a época do faz de conta. Entretanto à medida que cresce, passa a fazer uma leitura diferente das coisas, tanto que algumas crianças, por volta dos sete anos,  passam a não acreditar mais na existência do bom velhinho, no entanto, outros levam mais alguns anos para desencantarem. 

É natural que as crianças tenham dúvidas sobre Santa, especialmente à medida que atingem o pré-escolar e têm contato com mais e mais crianças, onde algumas sabem a "verdade" e outras acreditam que “já sabem”. Mas só porque seu filho está fazendo muitas perguntas, não necessariamente, significa que ele realmente entende o que está acontecendo.

Vale dizer que quando as crianças descobrem a identidade do Papai Noel, suas reações são imprevisíveis, portanto,  mais do que bons argumentos, é preciso habilidade para lidar com tal fantasia, pois nesse momento, enquanto algumas sentem-se traídas pelos adultos, outras aceitam com uma certa naturalidade as “desculpas” apresentadas.

Então, será que a crença em Papai Noel que faz a criança ficar mais comportada e feliz na sua fantasia dá menos trabalho aos pais quando pequena? E se assim for, fica a pergunta: Até que ponto essa ilusão compensa sua futura decepção?

Para refletir, selecionamos algumas  histórias simples que ilustram muito bem este tema.

A menina resolve contar para a amiguinha que Papai Noel não existe. A amiguinha protesta desapontada e diante da insistência cruel da outra  põe-se a chorar. Por algum tempo aquela revelação cruel deixa uma pontinha de mágoa e Papai Noel ainda faz falta.  

A amizade ficou abalada por alguns dias, semanas, meses ou quem sabe até anos. De um lado, risos debochados  e, do outro, a birra incontida que foram desaparecendo no cotidiano com as novas descobertas do universo feminino.

E assim cresceram juntas vivenciando suas fantasias numa união inabalável que sobreviveu às tinturas nos cabelos para esconder a idade; à escova progressiva para deixar os cabelos lisos; ao botox e à lipoescultura para ganhar uma barriga tanquinho e tudo mais ligado ao mundo das mulheres que, agora como mães, se encontram na mesma dúvida de seus pais:  Contar ou não contar para suas crianças a identidade do Papai Noel?  

Conta a história que a psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) experimentou negar a fantasia aos seus filhos, pois acreditava que a realidade deveria prevalecer em qualquer circunstância. Mas, certo dia, deparou-se com um pedido dos filhos: eles queriam se mudar para a casa da vizinha. Intrigada, perguntou o motivo e encontrou a resposta: é que lá existia Papai Noel. "O caso está registrado em uma das contribuições de Klein à psicanálise e mostra que a fantasia é intrínseca à criança, queiram os pais ou não".

Uma outra história se passou num simples vilarejo, onde o natal das crianças significava ir à missa do galo (à meia noite) para depois comer coisas gostosas e ver o que o Papai Noel deixou na Lareira para elas. Era uma disputa muito grande, pois só ganhava guloseimas quem tivesse se portado bem durante o ano.

Uma dessas crianças queria saber como o Papai Noel conseguia entrar na sua casa, já que ela era a última a sair e a fechar a porta. Ela tinha certeza que ele não poderia descer pela chaminé porque estava quente e ele podia se queimar, e sempre que questionava recebia a mesma resposta: "Bem, se ele tiver problemas em descer pela chaminé, ele pode usar a porta!!!"

Ano após ano, os pais, os avós e os tios se alternavam na noite de natal  para manter a magia do bom velhinho, até que um dia ela descobriu que na sua casa tinha duas chaves, aí caiu a ficha: Então alguém de sua família ou um vizinho era quem fazia o papel de Papai Noel. Mas, a magia continuou porque agora ela tinha um outro desafio e, desta vez, mais emocionante: descobrir qual deles na noite de Natal fazia o papel do bom velhinho?

Outra historinha interessante é o diálogo de  uma criança de 4 anos  e um adulto durante sua visita à casa do Papai Noel de uma escola.

Adulto:  Ali é realmente a casa do Papai Noel?

Criança:  Arregalou os olhos como quem não acredita que alguém possa duvidar de tudo aquilo que estava sendo visto ali e afirmou seguro: É claro que sim. Veja os móveis antigos, as coisas dele.

Adulto: Mas onde ele está agora? Eu não o vejo!

Criança: Ele está trabalhando. Se preparando para o Natal...

Adulto: Mas se a casa do Papai Noel é aqui mesmo, cadê a neve?

Criança: Rindo da ignorância do adulto, olhou para os amigos que estavam interessadíssimos na conversa e afirmou: A neve fica na casa do Polo Norte.  Aqui, em São Bernardo, não neva!

Adulto: Mas então, aqui não é a casa dele...

Criança: Aparentemente irritada, concluiu vitoriosa: E você não tem uma casa na praia? Então... o Papai Noel tem uma no Polo Norte!.

Apesar das outras crianças presentes na conversa descrita não acreditassem em Papai Noel, todos  pareciam estar indignados com as perguntas do adulto, afinal, as evidências da existência do Papai Noel eram muitas, segundo as próprias crianças.

É fundamental saber respeitar os limites de cada criança, pois o que fica registrado em seu inconsciente não é só a figura do velhinho barbudo e simpático, entregador de presentes, mas sim o que ele representa: o valor da família, da fraternidade e da bondade.

Se uma de suas crianças disser que o Papai Noel não é real, antes de tudo,  tente ouvir o que ela pensa sobre isso. Sua resposta certamente refletirá o que ela acredita naquele momento. Dependendo da resposta, cabe aos pais   amenizar a situação explicando que se algum dos amigos deles não acredita, isso é com ela, mas se ela acredita, não deve se preocupar com o que os outros pensam ou falam.

Entretanto, se as perguntas não pararem é bem provável que ela já esteja amadurecendo para a hipótese desse velhinho bom ser apenas mais uma de suas fantasias.  Nesse momento, num bato papo, esclarecer que ele existe  sim, mas apenas em nossos corações e em nossa imaginação. A ideia de amor e generosidade que existe por trás do bom velhinho é muito real e quando esses sentimentos habitam nosso coração, é sempre possível presentearmos alguém e é esta atitude que nos faz feliz e nos torna num Papai Noel real.

Cabe aos pais usar seus próprios critérios para decidirem se devem ou não incluir o Papai Noel em suas comemorações, mas sempre tendo em mente que as crianças ao descobrirem seus presentes na árvore na manhã de Natal acreditam que os presentes são de um homem mágico — Papai Noel — com recursos infindáveis que sabe recompensar as crianças boas, portanto um estímulo para ser uma criança do bem.

Mas, por outro lado, não podemos esquecer que as crianças cujos pais não têm condições de custear a fantasia do presente a ser entregue pelo Papai Noel, podem se sentir julgadas, desprezadas ou castigadas  pelo bom velhinho.  

O fato é que todos nós um dia acreditamos em Papai Noel. E se, de fato, é certo acreditar que o Papai Noel traz magia para a vida das crianças,  por outro lado não podemos deixar de ressaltar o quanto pode ser prejudicial, a longo prazo, para as crianças e para os próprios adultos que ao mentirem sobre a existência do Papai Noel, mesmo que tenha sido com boas intenções, semeiam a dúvida na criança com uma outra pergunta: De tudo o que lhe foi falado o que realmente não é mentira?

Oh, oh, Feliz Natal! 
Que a magia da Noite de Natal
transforme todos os seus sonhos em realidade!



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Papai Noel existe?, bomvelhinho, feliz Natal, criança, mentira.