Earworm - música chiclete ou pegajosa que não sai da cabeça


De repente você desperta, espreguiça-se, boceja, toma aquele banho e do nada começa a martelar, repetidamente, em sua cabeça algumas palavras de uma música qualquer, que nem é sua preferida, mas até que é cool:  I'm all about that bass/'Bout that bass, no treble/I'm all about that bass/'Bout that bass, no treble/I'm all about... (Meghan Trainor).

Você toma café, escova os dentes e a dita música continua entoando em sua mente... I'm all about...no treble

Pega seu carro, ônibus, metrô,  elevador e finalmente senta diante do computador, atende o telefone e aí percebe que ainda está cantarolando a mesma canção... no treble / I'm all about...  e, aqui, acolá , ainda ensaia alguns movimentos ao som da música, e muitas vezes sem saber ou entender a letra você murmura... 'Bout that bass, no treble/I'm all about... e de novo .... e de novo. 

Conhecido como “earworm” (minhocas de ouvido ou músicas chiclete), fenômeno este descrito como pequena parte de uma música que entra na mente de qualquer pessoa, sem esforço, e faz com que o indivíduo fique repetindo continuadamente, sem controle, e muitas vezes representa um problema sério, já que pode levar horas ou até dias para terminar, num processo contínuo, sem piedade, na cabeça da vítima.

Considerado um fenômeno comum, essas músicas que, inicialmente, podem ser cativantes, podem em seguida se tornarem irritantes. Acredita-se que 98% das pessoas  já experimentaram, em algum momento ou outro, a sensação de ter uma “música presa na cabeça” earworm, e, apesar de muitas pesquisas, até o momento, só nos foi apresentado sugestões, mas poucas soluções para ajudar a exterminá-las e limpar nosso cérebro confuso com essas músicas chiclete, ainda que temporariamente.

Na verdade o termo earworm, popularmente, também chamado de música chiclete ou música pegajosa, tem sua origem da palavra alemã Ohrwurm que é a maneira comum de expressar aquela melodia incômoda em nosso cérebro que continua ecoando repetidamente e não conseguimos nos livrar mesmo que ela não esteja mais tocando.

Segundo especialistas não há regras para identificar uma música que pode se transformar em uma música chiclete, já que qualquer uma pode virar uma minhoca dos ouvidos. O fato é que vivemos rodeados por um incessante bombardeio musical, e quando não estamos plugados em iPods, somos premiados com músicas, muitas vezes ensurdecedoras, vindas dos restaurantes, bares, lojas, academias e peruas Kombi munidas de rádio comunicador, os quais diariamente sobrecarregam nosso sistema auditivo com músicas chicletes que como sempre chegam sem ser convidadas, repetindo como um disco quebrado, pelo resto do dia, da noite e, quem sabe, nos próximos dias, semanas... isto tudo, sem  sequer fazer parte de nossa playlist.

Ao que tudo indica nossos cérebros parecem configurados a quanto mais ouvirmos uma música, mais provavelmente, em algum momento,  mesmo o mais ínfimo fragmento dessa música, vai se instalar em nosso cérebro e ficar presa por um tempo indeterminado.

Cientistas identificaram duas causas principais que comumente desencadeiam a repetição de uma música chiclete na cabeça. A primeira deles é o excesso de exposição e talvez esta seja a razão mais comum para que fragmentos de uma canção se alojem em nossa cuca. Isso inclui o quão recentemente a escutamos e quantas vezes ela foi repetida – por isso que músicas “da moda” que tocam direto nos iPods, na TV, no You tube, nas rádios, ou propagandas são grandes candidatas a músicas chiclete.

Outra possível causa das músicas chiclete é associação. Às vezes, algo que acontece ao nosso redor quando ouvimos determinada música, faz com que nosso cérebro a associe a fatores externos que nada têm a ver com ela. Mais tarde, ao nos encontrarmos neste mesmo ambiente, nosso cérebro pode desenterrar a música e começar a repetir a parte mais memorável dela em nossa mente.

Vale acrescentar que algumas pessoas são consideradas mais propensas a ataques de earworms do que outras, como músicos e pessoas ociosas, cansadas ou estressadas, que por estarem com a resistência baixa e o cérebro não estar ocupado o suficiente, involuntariamente facilitam sua invasão.  

Uma curiosidade relacionada aos músicos, parece que eles são mais propensos a experimentar “earworms” do que pessoas não orientadas para a música. Conta-se que Mozart sofria tanto de “earworms” que, se alguém tocasse apenas meia escala no piano, ele corria para terminá-lo, caso contrário, ele se queixava de ouvir repetidamente a primeira metade da escala em sua mente.

Diz-se que essa invasão não é por acaso, já que a indústria da música cria essas músicas chiclete justamente para “fisgar”,  “pegar” e “grudar” em nosso cérebro e,  por outro lado, elas estão presentes em toda a parte: É o despertador que toca aquela mesma musiquinha; alguém assoviando aquela música famosa;  uma criança cantarolando sua música preferida; um carro passando com o aparelho de som ligado; o tema de uma novela ou filme; jingles comerciais; trilhas sonoras de videogames, musicais da Broadway e até marchinhas de carnaval.

Como exemplo pode-se citar a música I Say a Little Prayer by Aretha Franklin que foi tocada nas lojas C&A, durante a época de Natal, acabou virando música chiclete. O cliente entrava na loja e ... I say a little prayer for you / Forever and ever / you'll stay in my heart  /  and I will love you  / Together, forever / We never will part  / Oh, how I'll love you / Together, Together ...  selecionava, experimentava, comprava ou não, saía, mas o .... Forever and ever ... continuava acompanhando-o na rua, no ônibus, no carro, no banho e lá ia pela noite afora...  I'm combing my hair now / I say a little prayer for you / you'll stay in my heart  /  and I will love you... e em  muitos casos seguia por muitos dias até ser substituída por outra música chiclete.

Um outro exemplo interessante é a história de um telespectador que ao ouvir uma única vez “Love and marriage”, música tema da série de televisão americana “Married with Children”, cantada por Sinatra, foi o suficiente para que sua mente fosse invadida pela música durante dias e dias. Com a repetição incessante a música passou a interferir em seu pensamento, no trabalho, em seu sono e em sua paz de espírito.

O fato é que apesar de ter feito todas as sugestões que lhe foram passadas para interrompê-la (como dar muitos pulos, contar até cem, jogar água no rosto, falar em voz alta consigo mesmo, tapar os ouvidos, enfim, fazer todas as simpatias ensinadas pela bisa), ele continuava cantarolando: Love and marriage, love and marriage... Try, try, try to separate them / It's an illusion / Try, try,... Por fim, aos poucos ela foi desaparecendo, porém ao comentar com um amigo, ela voltou a persegui-lo... try, and you will only come / To this conclusion  Love... Tempo  depois esse amigo encontrou um outro amigo — um pastor, e ao contar-lhe sua triste história, involuntariamente o “contamina” com a música; e o pastor, por sua vez, inadvertidamente infeta toda a congregação...

Quem não se lembra das últimas palavras de Scarlet Ohara no final do filme E o Vento Levou: Afinal, amanhã é um novo dia!  E aí entra a trilha sonora... ♫ ♫ ♫  La-ra-la-ra-la... ♫ ♫ ♫   la-ra-la-ra... haja coração ... A música é tão chiclete que até hoje quando se fala “Amanhá é um novo dia” imediatamente nosso cérebro conecta essa frase à música do filme que apesar de ser bonita é muito chiclete e, afinal, ninguém merece tanto ♫♫♫ la-ra-la...♫♫♫ la-ra-la-ra♫♫♫...

O fato é que apesar de não existirem métodos comprovados, podemos citar algumas técnicas recomendadas pelos “experts do assunto” e quem sabe você tem sorte e consegue se livrar deste incômodo que um dia sim, outro também, desgasta seu cérebro:

• Pense em outra música, mas vale lembrar que nem sempre a nova música é menos pegajosa.
• Ouça a música inteira e cante para eliminar de vez o chicle.
• Use suas próprias palavras na música para zoar com chicle de ouvido.
• Cante em voz alta quantos earworms você pode cantar, sem parar. Seu cérebro ficará sobrecarregado e a mistura de melodias o confundirá e você ficará em paz.
• Torne-se um compositor profissional, escrevendo músicas para tirá-las da cabeça.
• Encontre alguma coisa que represente um desafio, mantendo-se assim totalmente ocupado.
Faça alguma atividade, como Palavras cruzadas que exige concentração e limitará a invasão da música chicle em sua cabeça.
• Para quem gostar de ler um bom romance também pode ajudar a manter earworms fora da cabeça.
• Toque um instrumento e a atenção do seu cérebro se moverá para ele.
• Realize uma atividade diferente que exija esforço.
Ligue o rádio e deixe que outros sons o distraiam.
• mascar chiclete pode ajudar a reduzir a capacidade do cérebro de formar memórias verbais ou musicais. 
• Doce de canela — o sabor intenso parece distrair essa parte do seu cérebro.

Sabe-se que o mecanismo exato que causa este fenômeno no cérebro ainda não foi totalmente compreendido, entretanto, alguns cientistas acreditam que este processo se deve à antiga prática da humanidade de passar as informações por meio de palavras faladas e cantadas, o que fez com que o cérebro humano se tornasse altamente propenso a gravar essas informações e a lembrar delas quando necessário; tanto que hoje em dia muitas pessoas acham mais fácil memorizar algo usando uma frase ritmada,  recurso este muito usado em cursinhos pré-vestibular.

Assim, quando ligamos a música a um acontecimento ou a uma ideia, isso traz junto uma parte grudenta da música chamada de “memória involuntária”. Quando isso acontece, nossos cérebros parecem determinados a terminar o que começaram, ou seja, tentam completar a música.

É notório que na própria música existem tendências inerentes à repetição, tanto que nossos poemas, baladas e canções são ricos em repetições ou variações sobre um tema, assim somos atraídos pela repetição e, portanto, talvez não devamos nos surpreender nem reclamar se, dia sim e outro também, formos invadidos por um earworm.

A sugestão é relaxar, manter a mente ocupada, criar um desafio mental de forma que uma palavra do earworm conduza a outro trecho de outra música e assim por diante. Uma coisa é certa: você vai acabar dormindo e amanhã... bem, amanhã será um novo... Cause the players gonna play, play, play, play, play  / And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate  / Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake / I shake it off, I shake it off... (Taylor Swift).

Earworm - música chiclete ou pegajosa que não sai da cabeça
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