João
Pessoa escreveu que toda a poesia reflete o que a alma não tem. Por isso a
canção dos povos alegres é triste e a canção dos povos tristes é alegre.
Há também os que dizem que a beleza da arte nasce da tristeza. Se assim for, poder-se-ia dizer que se não houvesse tristeza, não haveria arte, já que uma obra de arte é uma forma de expressar ou curar o sofrimento.
Há também os que dizem que a beleza da arte nasce da tristeza. Se assim for, poder-se-ia dizer que se não houvesse tristeza, não haveria arte, já que uma obra de arte é uma forma de expressar ou curar o sofrimento.
A
tristeza,
cantada em verso e prosa, é comparada como uma dor que não tem fim. Enquanto a
alegria,
apesar de indolor, é passageira; a tristeza, enquanto
sentimento saudável e natural da vida, tem fim; porém, quando surge de maneira
intensa ou fora do contexto, pode perder o controle e desencadear depressão.
Na verdade, a tristeza faz parte da vida e representa um raro momento de reflexão. É um alerta da alma, da mente e do coração. É um olhar para dentro de nós mesmos que nos abre a possibilidade de nos conhecermos melhor, de saber o que queremos e do que realmente gostamos, para poder, então, buscar o que nos pode fazer feliz.
Na verdade, a tristeza faz parte da vida e representa um raro momento de reflexão. É um alerta da alma, da mente e do coração. É um olhar para dentro de nós mesmos que nos abre a possibilidade de nos conhecermos melhor, de saber o que queremos e do que realmente gostamos, para poder, então, buscar o que nos pode fazer feliz.
É claro que é melhor ser alegre que
ser triste / Alegria é a melhor coisa
que existe, como
dizia o poeta, cantor e compositor Vinícius de Moraes. Mas, pensando bem, melhor mesmo é não se privar de nenhuma delas, já
que passamos nossa existência pululando entre elas e, só percebemos a
existência de uma — a alegria — quando conhecemos
a outra — a tristeza.
Selecionamos
o texto Tristeza de Rubens Alves que ilustra muito bem o tema. Confira!
Você,
que diz que, se pudesse, trocaria seu nome por “Melancolia”, você me pergunta sobre
as razões da tristeza. Me pergunta mais: sobre as razões por que há pessoas que
se emocionam com coisas pequenas — as outras nem ligam e até se riem da sua
sensibilidade —,o que lhe dá uma tristeza ainda maior, a tristeza da solidão.
Olhe,
há tristezas de dois tipos. Primeiro, são as tristezas diurnas, quando o mundo está
iluminado pelo sol. Tristezas para as quais há razões. Fico triste porque o meu
cãozinho morreu, porque o meu filho está doente, porque crianças esfarrapadas e
magras me pedem uma moedinha no semáforo, porque o amor se desfez.
Para
essas tristezas há razões. Quem não sente essas tristezas está doente e
precisaria de terapia para aprender a ficar triste. Tristeza é parte da vida.
Ela é a reação natural da alma diante da perda de algo que se ama. O mundo está
luminoso e claro — mas há algo, uma perda, que faz tudo ficar triste.
Segundo,
são as tristezas de crepúsculo. O crepúsculo é triste, naturalmente. Não, não
há perda nenhuma. Tudo está certo. Não há razões para ficar triste. A despeito
disso, no crepúsculo a gente fica. Talvez porque o crepúsculo seja uma metáfora
do que é a vida: a beleza efêmera das cores que vão mergulhando no escuro da
noite.
A
alma é um cenário. Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca, inundada
de alegria. Por vezes ela é como um pôr de sol, triste e nostálgico. A vida é
assim. Mas, se é manhã brilhante o tempo todo, alguma coisa está errada.
Tristeza
é preciso. A tristeza torna as pessoas mais ternas. Se é crepúsculo o tempo
todo, alguma coisa não está bem. Alegria é preciso. Alegria é a chama que dá
vontade de viver. Eu acho que essa tristeza crepuscular é mais que uma
perturbação psicológica. Acho que ela tem a ver com a sensibilidade perante a
dimensão trágica da vida. A vida é trágica porque tudo o que a gente ama vai
mergulhando no rio do tempo.
“Tudo
flui; nada permanece.” A vida é feita de perdas. Fiquei comovido, dias atrás, vendo
fotos dos meus filhos quando eles eram meninos. Aquele tempo passou. Aquela alegria
mergulhou no rio do tempo. Não volta mais. Há, assim, um trágico que não está ligado
a “eventos trágicos”. Está ligado à realidade da própria vida. Tudo o que
amamos, tudo o que é belo, passa.
Mas
é precisamente desse sentimento que surge uma coisa maravilhosa, motivo de riqueza
espiritual: a arte. Os artistas são feiticeiros que tentam paralisar o
crepúsculo. Eternizar o efêmero. Todas as vezes que ouço aquela música ou leio
aquele poema, o passado ressuscita. A beleza da arte nasce da tristeza. Se não
houvesse tristeza, não haveria arte. Diz o Jobim: “Assim como o poeta só é
grande se sofrer...” Certo. Sem tristeza não haveria Cecília, Adélia, Pessoa,
Chico, Beethoven, Chopin. A obra de arte ou é para exprimir ou para curar o
sofrimento.
Mas
há um limite. É preciso que a tristeza seja temperada com alegria. Tristeza,
só, é muito perigoso. As pessoas começam a desejar morrer. Essa é a razão por
que os deprimidos querem dormir o tempo todo. O dormir é uma morte reversível.
Quando
a gente está com dor de cabeça, toma aspirina sem vergonha alguma.
Quando
a gente está com dor de alma, tristeza, algum remédio é preciso – para não querer
morrer, para voltar a ter alegria.
Uma
ajuda para a tristeza é conversar. Para isso é preciso ter alguém que escute,
que entenda a tristeza. Muitas pessoas procuram terapia para isso: não porque
sejam doentes mentais, mas porque precisam compartilhar sua tristeza com alguém
que conheça a luz crepuscular.
Fonte:
Texto original: Tristeza
Rubem Alves
Tags:
Tristeza, alegria,
felicidade, luz, crepúsculo, vida, alma, arte.
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