Pra que Lamentar Perdidas Ilusões!

Vidas que se acabam a sorrir  /  Luzes que se apagam, nada mais  /    É sonhar em vão, tentar aos outros iludir / Se o que se foi,  pra nós não voltará jamais  /  Para que chorar o que passou ...

Seguidamente nos deparamos na televisão com reportagens sobre artistas esquecidos, antes fenômenos, agora assolados pela depressão, solidão e pobreza. Esses artistas geralmente “se perderam” no caminho das drogas e do vício. Luzes da Ribalta tudo a ver com esse tema.

Luzes da Ribalta é um belo texto sobre as amarguras da vida; o peso do envelhecer e ser esquecido e o acaso do artista diante das contradições que a vida lhe proporciona, tudo isso ajuda a compor uma elegante sinfonia melancólica sobre a chegada do crepúsculo.

A história do palhaço Calvero (Chaplin) e da bailarina Thereza (Claire Bloom) é de fato o fim de um lado do cinema de Charles Chaplin, o cinema da simplicidade humanista, de forte cunho social e reflexões sobre a vida e as relações humanas.

O roteiro é centrado na dualidade dos protagonistas, afinal é na dualidade que se formam as nuances da vida, ora triste, ora alegre.  Os diálogos de Luzes da Ribalta unem desgosto e esperança.

Num primeiro momento, Calvero (o palhaço) é a grande força de suporte a Terry (bailarina), ele é o velho alegre que se agarra à vida, enquanto a jovem, agora paralisada na cama, não tem esperanças de voltar a andar e seguir seu sonho de ser bailarina.

É como se Chaplin discursasse sem a máscara, que entre as perdas e desgostos há sempre alegria e esperança. Inicialmente é Calvero que tira Terry da depressão, para logo em seguida a bailarina trocar de papel com ele e retirá-lo do fundo do poço – indica o olhar de Chaplin sobre o quanto as gerações podem transmitir ensinamentos umas para as outras.

De um lado, é o eterno sentimento de amargura, solidão e abandono de Calvero que lhe dá a maturidade necessária para incentivar Terry a acreditar em si mesma e na força da sua arte. Do outro, a juventude e a gratidão da bailarina para com o palhaço, que o ajuda a ressignificar seu passado e reencontrar o seu poder criativo e a fugaz esperança de que um dia os tempos áureos retornem.

Essa troca de bastão, entre gerações dentro da própria arte, ilustra o apagar das luzes para o palhaço e o acender delas para a bailarina que dança, enquanto as cortinas se fecham, em um desfecho de liberação de sentimentos ou emoções reprimidas, que só um gênio como Chaplin poderia oferecer.

A reflexão que Chaplin faz em Luzes da Ribalta é a de um indivíduo cercado por sombras que crescem a cada dia, tanto dentro quanto fora. O diretor lembrava de sua vida e da vida de sua família, homenageava os artistas que foram colocados à margem dos palcos por estarem “velhos demais” e discutia a respeito do amor, da dupla vida de um artista e da motivação que dá a todos o impulso para viver e não apenas existir.

Luzes da Ribalta é um dos textos mais complexos e profundos do diretor, porque se entrega de fato à reflexão e, em paralelo, a mensagens postas como metáforas, símbolos e alegorias sobre a vida e a arte, colocando em cena a depressão, o desencanto, o prazo de validade da vida artística e a amizade como um ponto de salvação.

Pode-se dizer que Luzes da Ribalta é, assim, a obra-convite de Charles Chaplin para o mundo real permeado pela arte, onde não só existe o riso e a lembrança, mas também a lágrima, a perda, o ganho e o encontro,  elementos que enriquecem e dão valor e significado à vida de qualquer pessoa.

As luzes se atenuam e nós também nos damos conta de que dançamos o mesmo balé no mesmo palco, sendo, às vezes, o palhaço ou bailarina, vibrando com os sucessos e chorando com os fracassos. Confira a música: 

Luzes Da Ribalta

Vidas que se acabam a sorrir

Luzes que se apagam, nada mais

É sonhar em vão, tentar aos outros iludir

Se o que se foi, pra nós não voltará jamais


Para que chorar o que passou?

Lamentar perdidas ilusões

Se o ideal que sempre nos acalentou

Renascerá em outros corações

 

Vidas que se acabam a sorrir

Luzes que se apagam, nada mais...

 Compositor: Charles Chaplin


Quem foi Charles Chaplin?

Falar em Charles Chaplin é lembrar do vagabundo Carlitos. O personagem do cinema mudo tinha, na verdade, uma voz poderosa. Filmes como "Tempos Modernos" e "O grande Ditador" não foram apenas uma distração cinematográfica, chamava a atenção para as mudanças do mundo, inclusive políticas.

Charles Chaplin foi um importante ator, diretor de cinema, escritor, músico e roteirista britânico do século XX. É considerado um dos mais importantes nomes da história do cinema mundial. Seu personagem mais famoso foi o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, este personagem denunciava as injustiças sociais.

Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade.  Pelo filme O Circo, Chaplin ganhou, em 1929, seu primeiro Oscar Honorário.

As mudanças pelas quais o cinema passou limitaram a carreira de vários artistas que não souberam se adaptar, ou que se negaram a isso. Apesar de ter produzido pouco depois que o cinema passou do mudo para o falado, Charles Chaplin deixou um forte legado em ambas as frentes. Embora seus maiores sucessos sejam os filmes mudos, no que toca ao cinema falado, Chaplin deixou seu verdadeiro testamento, Luzes da Ribalta (Limelight, 1952).

Trata-se de um filme estadunidense escrito, dirigido e interpretado por Charles Chaplin, que teve sua estreia em 23 de outubro de 1952 e lançamento público em 6 de fevereiro de 1953, e foi o antepenúltimo filme do cineasta britânico.

Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha no período. Mas o sucesso dos filmes foi grande em outros países, sendo traduzido para diversos idiomas (francês, alemão, espanhol, português).

Em 1965, publicou sua autobiografia, Minha Vida. Em 1972, Charles Chaplin foi premiado com o Oscar Honorário de melhor trilha sonora pelo filme Luzes da Ribalta.

Em 25 de dezembro de 1977, o mundo perdeu um dos grandes representantes da história do cinema. Chaplin faleceu de derrame,  aos 88 anos. 


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