Câncer de mama. Desabafo. Fé. Gratidão

A vida é feita de ciclos, e cada um deles traz novas oportunidades e desafios inesperados, os quais somos obrigados a encará-los com uma força que até então desconhecíamos. E é a partir desse momento que aprendemos a cultivar a esperança, a determinação, a coragem, e a resiliência, para poder lidar com as mudanças e, acima de tudo, encontrar “um caminho” para seguir em frente, aprendendo a conviver com as sequelas.

Este é mais um “DESABAFO” de “uma das muitas mulheres” diagnosticada com CÂNCER DE MAMA que buscou cultivar força para suportar e resistir; coragem para enfrentar e agir diante do desconhecido; firmeza em persistir e, acima de tudo, manter a fé necessária para viver “ciclos” de incertezas e esperança e assim  conquistar uma recuperação ou até mesmo apenas “alguns dias, semanas, meses, anos” a mais de vida.

Na verdade, é uma luta diária para driblar a “validade”, já que o ser humano também tem um "prazo de validade biológico”, apesar do tempo exato ser incerto, já que depende de genética, estilo de vida e até mesmo avanços científicos.

Em 2024, aos 74 anos, fui diagnosticada com câncer de mama e passei por um tratamento que incluiu uma cirurgia para retirada de uma das mamas, remoção cirúrgica de alguns gânglios linfáticos das axilas, além de sessões de quimioterapia Vermelha e Branca e, agora, estou iniciando o último e o mais longo ciclo do tratamento que é a Hormonioterapia — tomar um medicamento por 5 anos que, dependendo do risco, poderá ser estendido por mais 5 anos.

Os efeitos colaterais do tratamento para o câncer de mama são conhecidos: o mal-estar da quimioterapia, fraqueza, queda de cabelo, o medo, a angústia, as limitações, as sequelas, o risco aumentado de outras neoplasias e a incerteza sobre o futuro.

Confesso que, após a cirurgia, senti como se um trator tivesse passado sobre mim, pois além da mastectomia, retirei o útero, trompas e ovário. Tudo doía. Mas, com o decorrer dos dias, aprendi que nossos corpos têm uma capacidade incrível de se recuperar.  Tive sorte? Sim. Estou livre por enquanto? Sim. Com medo? sim, mas com esperança e fé.

Na verdade, quando iniciei meu tratamento acreditei ser este um processo com início, meio e fim, ou seja, os efeitos seriam temporários e melhorariam após o término e para que isso acontecesse eu apenas teria que ter garra, serenidade, aceitação e fé para concluir todas as etapas.

Mas, desde então, todo o dia é um recomeço. Não foi só retirar os órgãos internos femininos, perder um seio, raspar o cabelo, cansaço permanente, dores musculares/articulares...  é sobre ter a serenidade e a coragem para aceitar as coisas que não se pode mudar e estar pronta para fazer ininterruptamente o que realmente precisa ser feito, sem saber o resultado de todos esse processo.

Hoje, estou vivendo o período de remissão, que é um período em que os sinais e sintomas diminuem ou desaparecem, mas não é o mesmo que cura, já que as células cancerígenas podem permanecer no corpo e a doença pode voltar (recidiva).

Assim, mesmo com neuropatia (formigamento/dormência) e fadiga, estou me sentindo privilegiada e agradecida, já que voltei a fazer algumas atividades diárias e, acreditem, esta é uma das melhores sensações do mundo recuperar, em parte, a capacidade de fazer as pequenas coisas que, no meu caso, me ajuda a lidar com sentimento de perda e mudanças na autoimagem.

Este é um momento em que ainda me sinto vulnerável, frágil e perdida. É um retorno sem saber se serei capaz de continuar fazendo as coisas que fazia antes. Sinto que o retomar a vida após todo esse período de tratamento pode ser uma das partes mais difíceis desta trajetória devido a uma série de efeitos a longo prazo e que podem permanecer para sempre, sem contar com a ansiedade e o medo da Recorrência.

No entanto, devo confessar que a cada consulta, novos exames, o coração aperta e vem o medo, a angústia, mas também a ESPERANÇA, que embora me conduza a questionar o valor do tempo de vida, estimula-me a valorizar o presente — GRATIDÃO — e a amenizar o sofrimento diante das inevitáveis perdas e transformações.

O fato é que muitas pessoas sofrem diariamente o que passei e estou passando, submetendo-se a tratamentos como quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e que, infelizmente, mesmo após passarem por todo esse processo dolorido, muitas não conseguem sobreviver.

Mas a vida nos ensina que a dor pode nos ajudar a ser mais forte. O medo pode nos conduzir a ser mais corajosos. A paciência pode nos ajudar a lidar com as adversidades. A esperança pode nos ajudar a enfrentar os desafios.

Assim, confesso que, embora, sempre tenha praticado a fé e a gratidão, só agora entendi verdadeiramente o quanto é importante acreditar e agradecer, todos os dias, e o quanto a pode nos fazer crer no invisível e realizar o impossível. E é essa que faz com que a crença no impossível possa ser possível, desde que acompanhada por passos concretos e corajosos no mundo visível, enfim, há que querer, ousar, arriscar e aceitar.


Câncer de mama. Desabafo. Fé. Gratidão

By Iria Maria Assis

 



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