A História da Grande Torre — Augusto Cury

“Se metade do orçamento dos gastos militares do mundo fosse investido na educação, os generais se tornariam jardineiros;  os policiais, poetas; os psiquiatras, músicos. A violência, a fome, o medo, o terrorismo e os problemas emocionais estariam nas páginas dos dicionários e não nas páginas da vida...” 
(Augusto Cury)

Augusto Cury para concluir seu livro “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes — Como formar jovens felizes e inteligentes,  conta a A História da Grande Torre na qual o autor revela a perigosa direção para onde a  sociedade está caminhando,  a crise da educação e a importância do país e dos professores pensantes, que de forma equilibrada criam soluções a curto, médio e longo prazos não apenas nas escolas, mas na própria vida como construtores de um mundo melhor.

Apesar de Cury admitir que o valor da educação mostrado pela História da grande Torre ainda é um sonho, se todos sonharmos este sonho, um dia ele deixará de ser apenas um sonho. 

Cury tem contado essa história em muitas conferências, inclusive em congressos internacionais, sensibilizando a todos os participantes. Como estamos no mês de outubro, mês em que se comemora no dia 15, o Dia do Professor, com este texto,  estamos homenageando a todos os educadores que lutam  pela melhoria da educação, com objetivo de formar crianças e adolescentes integrados ou sociáveis, felizes, livres e empreendedores.

“Num tempo não muito distante do nosso, a humanidade tornou-se tão caótica que os homens fizeram um grande concurso. Eles queriam saber qual a profissão mais importante da sociedade. Os organizadores do evento construíram uma grande torre dentro de um enorme estádio, com degraus cravejados de pedras preciosas. A torre era belíssima. Chamaram a imprensa mundial, a televisão, os jornais , as revistas e as rádios para realizarem a cobertura do acontecimento.

O mundo estava de olhos postos no evento. No estádio, pessoas de todas as classes sociais comprimiam-se para ver a disputa de perto. As regras eram as seguintes: cada profissão era representada por um ilustre orador e este deveria(...) fazer um discurso eloquente e convincente sobre os motivos pelos quais a sua profissão era a mais importante na sociedade moderna. A votação era mundial e pela internet.

Nações e grandes empresas patrocinavam a disputa. A categoria vencedora receberia prestígio social, uma grande soma em dinheiro e subsídios do governo.(...) O mediador do discurso Bradou: “ O espaço está aberto!”

Sabem quem subiu primeiro à torre? Os educadores? Não! O representante da minha classe, a dos psiquiatras. Ele subiu à torre e a plenos pulmões proclamou:“As sociedades modernas tornar-se-ão uma fábrica de estresse. A depressão e a ansiedade são as doenças do século. As pessoas perderam o encanto pela existência. Muitas desistem de viver. A indústria dos antidepressivos e dos tranquilizantes tornou-se a mais importante do mundo” (...)

O representante dos psiquiatras concluiu: “ O normal é ter conflitos e o anormal é ser saudável. O que seria da humanidade sem os psiquiatras?(...)

No estádio reinou o silêncio. Muitos da plateia olharam para si mesmos e perceberam que não eram alegres, estavam “estressados”, dormiam mal, acordavam cansados, tinham uma mente agitada, dores de cabeça.(...)

Em seguida, o mediador bradou: “O espaço está aberto!”. Sabem quem subiu depois? Os professores? Não! O representante dos magistrados – os juízes de Direito.

Ele subiu (...) e desferiu palavras que abalaram os ouvintes: “ Observem os índices de violência!(...) Os raptos, os assaltos e a violência no trânsito enchem as páginas dos jornais. A agressividade nas escolas, os maus tratos infantis, a discriminação racial e social fazem parte da nossa rotina. Os ouvintes menearam a cabeça, concordando com os argumentos. Em seguida, o representante dos magistrados foi mais contundente: !O tráfico de drogas movimenta tanto dinheiro como o petróleo.

Não há como extirpar o crime organizado.(...)Sem os juízes e os promotores , a sociedade esfalece-se. Por isso , declaro que, com o apoio dos promotores e do aparelho policial, representamos a classe mais importante da sociedade.”

Todos engoliram em seco estas palavras. Elas perturbavam os ouvidos e queimavam a alma(...) Em seguida, o mediador, já a suar de frio, disse: “ O espaço está novamente aberto!”

Um outro representante mais intrépido subiu a um degrau mais alto da torre. Sabem quem foi desta vez? Os educadores? Não! Foi o representante das forças armadas .

Com uma voz vibrante e sem delongas, ele discursou: “Os homens desprezam o valor da vida. Eles matam-se por muito pouco. O terrorismo elimina milhares de pessoas. A guerra comercial mata milhões de fome.(...)As nações só se respeitam pela economia e pelas armas que possuem. Quem quiser a paz tem de se preparar para a guerra. Os poderes econômico e bélico, e não o diálogo, são os fatores de equilíbrio num mundo espúrio.”

As suas palavras chocaram os ouvintes, mas eram inquestionáveis. Em seguida, ele concluiu: “ Sem as forças armadas, não haveria segurança.(...) Os homens das forças armadas não são apenas a classe profissional mais importante, mas também a mais poderosa.” A alma dos ouvintes gelou.(...)

Os argumentos dos três oradores eram fortíssimos. A sociedade tinha-se tornado um caos. (...). Ninguém mais ousou subir à torre. Em quem votariam?

Quando todos pensavam que a disputa estava encerrada, ouviu-se uma conversa na base da torre. De quem se tratava? Desta vez eram os professores. Havia um grupo deles da pré-primária, do ensino básico, do secundário e do universitário (...) e dialogavam com um grupo de pais. (...)As câmaras de televisão focaram-nos e projetaram a sua imagem numa grande tela. O mediador gritou para que um deles subissem à torre. Eles recusaram-se.

O mediador provocou-os: “ Há sempre covardes numa disputa.” Houve risos no estádio. Fizeram troça dos professores e dos pais. Quando todos pensavam que eles eram frágeis, os professores, com o incentivo dos pais, começaram a debater as ideias apresentadas, permanecendo no mesmo lugar.(...)

Um dos professores, olhando para o alto, disse ao representante dos psiquiatras: “ Nós não queremos ser mais importante do que vocês. Apenas queremos ter condições para educar a emoção dos nossos alunos, formar jovens livres e felizes, para que não adoeçam e sejam tratados por vocês.”

O representante dos psiquiatras recebeu um golpe na alma. Em seguida, um outro professor (...) olhou o representante dos magistrados e disse: “ Nunca tivemos a pretensão de ser mais importantes do que os juízes. Desejamos apenas ter condições para lapidar a inteligência dos nossos jovens, fazendo-os amar a arte de pensar e aprender a grandeza dos direitos e dos deveres humanos. Assim, esperamos que nunca se sentem no banco dos réus.” O representante dos magistrados tremeu na torre.

Uma professora, ao lado esquerdo da torre, aparentemente tímida, encarou o representante das forças armadas e falou poeticamente: “ Os professores de todo o mundo nunca desejaram ser mais importantes do que os membros das forças armadas. Desejamos apenas ser importantes no coração das nossas crianças. Almejamos levá-las a compreender que cada ser humano não é apenas um número na multidão, mas um ser insubstituível, um actor único no teatro da existência.” A professora fez uma pausa e completou:

“Assim, eles apaixonar-se-ão pela vida e, quando detiverem o controlo da sociedade, nunca farão guerras, sejam guerras físicas que tiram o sangue, sejam comerciais que tiram o pão. Pois cremos que os fracos usam a força, mas os fortes o diálogo para resolver os seus conflitos. Cremos ainda que a vida é a obra-prima de Deus, um espetáculo que nunca deve ser interrompido pela violência humana.”

Os pais deliraram de alegria com estas palavras. Mas o representante do sistema judicial quase caiu da torre. Não se ouvia um zumbido na plateia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não imaginavam que os simples professores, que viviam no pequeno mundo das salas de aula, fossem tão sábios.

O discurso dos professores abalou os líderes do evento. Vendo ameaçado o êxito da disputa, o mediador do evento disse arrogantemente: “ Sonhadores! Vocês vivem fora da realidade!” Um professor destemido bradou com sensibilidade: “ Se deixarmos de sonhar, morreremos!”

Sentindo-se questionado, o organizador do evento pegou no microfone e foi mais longe na sua intenção de ferir os professores: “Quem se importa com os professores atualmente? Comparem-se com as outras profissões. Vocês não participam das reuniões políticas mais importantes. A imprensa raramente os noticia. A sociedade pouco se importa com a escola. Olhem para o salário que vocês recebem no final do mês!” Uma professora fitou-o e disse com segurança: “ Não trabalhamos apenas pelo salário, mas pelo amor dos seus filhos e de todos os jovens deste mundo.

Irado, o líder do evento gritou: “ A sua profissão será extinta nas sociedades modernas. Os computadores estão a substituí-los! Vocês não são dignos de estar nesta disputa!”

A plateia, manipulada, mudou de lado. Condenaram os professores. Exaltaram a educação virtual. Gritaram em coro: “Computadores! Computadores! Fim dos professores” O estádio entrou em delírio repetindo esta frase. Sepultaram os mestres. Os professores nunca tinham sido tão humilhados. Golpeados por estas palavras, resolveram abandonar a torre. Sabem o que aconteceu?

A sociedade desabou. As injustiças e as misérias da alma aumentaram mais ainda. A dor e as lágrimas expandiram-se.  A prisão da depressão, do medo e da ansiedade atingiu grande parte da população. A violência e os crimes multiplicaram-se.(...)

Estarrecidos, todos compreenderam que os computadores não conseguiam ensinar a sabedoria, a solidariedade e o amor pela vida. O público nunca pensara que os professores fossem os alicerces das profissões e o sustentáculo do que é mais lúcido e inteligente em nós.

Descobriu-se que o pouco de luz que entrava na sociedade vinha do coração dos professores e dos pais que arduamente educavam os seus filhos.(...)

Perceberam que a esperança de um belo amanhecer repousa em cada pai, cada mãe e cada professor e não sobre os psiquiatras, os juízes, os militares, a imprensa...(...) _ eles são a esperança do mundo.

Perante isto, os políticos, os representantes das classes profissionais e os empresários fizeram uma reunião com os professores em cada cidade de cada nação.  Reconheceram que tinham cometido um crime contra a educação. Pediram desculpas e rogaram que eles não abandonassem os seus filhos.

Em seguida, fizeram uma grande promessa. Afirmaram que metade do orçamento que gastavam com armas, com o aparato policial e com a indústria dos tranquilizantes e dos antidepressivos seria investida na educação. Prometeram resgatar a dignidade dos professores, e dar condições para que cada criança da Terra fosse nutrida com alimentos no seu corpo e com o conhecimento na sua alma.(...)

Os professores choraram.(...) Há séculos que eles esperavam que a sociedade acordasse para o drama na educação. Infelizmente, a sociedade só acordou quando as misérias sociais atingiram patamares insuportáveis.

Mas, como sempre trabalharam como heróis anônimos e sempre amaram cada criança, cada adolescente e cada jovem, os professores resolveram voltar para a sala de aula e ensinar cada aluno a navegar nas águas da emoção.

Pela primeira vez, a sociedade colocou a educação no centro das suas atenções.(...) Os jovens já não desistiam da vida. Já não havia suicídios. O uso das drogas dissipou-se. Quase já não se ouvia falar de transtornos psíquicos e de violência. E a discriminação? O que era isso? Já ninguém se lembrava do seu significado(...) O medo dissolveu-se, o terrorismo desapareceu, o amor triunfou.

As prisões tornaram-se museus. Os polícias tornaram-se poetas. Os consultórios de psiquiatria esvaziaram-se. Os psiquiatras tornaram-se escritores. Os juízes tornaram-se músicos. Os promotores tornaram-se filósofos. E os generais? Descobriram o perfume das flores, aprenderam a sujar as suas mãos para as cultivar.

E os jornais e as televisões do mundo? O que noticiavam, o que vendiam? Deixaram de vender mazelas e lágrimas humanas. Vendiam sonhos, anunciavam a esperança...

Quando se tornará esta história realidade? Se todos sonharmos este sonho, um dia ele deixará de ser apenas um sonho.

A História da Grande Torre — Augusto Cury
Texto do livro “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes — Como formar jovens felizes e inteligentes”

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