Tal
qual costumes e tradições o Caldo ou Sopa de Pedra é um conto
universal que nos permite inúmeras leituras, as quais, sem dúvida, abordam questões básicas de sobrevivência e superação que são
importantes para nos ajudar a descobrir o mundo e a natureza humana como
realmente ela é.
O caldo de pedra é uma lenda que expressa sua atualidade e utilidade para o homem de hoje. As lições contidas nessa lenda oferecem novas perspectivas para superar desafios, vencer dificuldades e obstáculos, revertendo-os em “alimento” — o caldo que representa a prosperidade, a realização e a energia motivadora para enfrentar novos desafios.
Certamente,
a maioria das pessoas já ouviu falar sobre a Sopa ou Caldo de Pedra
que costuma ser utilizada em dinâmicas de grupo para selecionar novos
empregados, em palestras de motivação ou ainda como uma atividade lúdica no
ensino fundamental.
O
fato é que algumas pessoas ainda se surpreendem com a pergunta: Então
nunca comeu caldo ou sopa de pedra? Pois é, não se preocupe, apenas
prepare-se para ouvir a história popular de um personagem esperto (o personagem
dependerá de quem está contando: um soldado, um frade, um mendigo… ), que nem é bom, nem mau, ou seja, um personagem que não
prejudica ninguém, apenas usa seus truques, neste caso uma pedra, para
conseguir da comunidade “os ingredientes” para completar sua sopa. Esperteza ou
artimanha? Bem, a decisão é sua!
Na
verdade, a Sopa de pedra ou Caldo de pedra, é uma sopa típica portuguesa,
em particular da cidade de Almeirim, situada no coração da região do Ribatejo, a
70 quilômetros de Lisboa, considerada a capital
da sopa da pedra que a transformou em atração turística, tanto que a maioria s restaurantes a preparam. Assim, quando for visitar a santa terrinha, não se esqueça de provar a sopa ou caldo de pedra.
Vale
acrescentar que a designação sopa de pedra também se encontra em
muitas culturas ocidentais que têm como base lendas e mitos.
Diante de
inúmeras versões, optamos pela versão de Teófilo
Braga, poeta, político e ensaísta português. Confira!
O CALDO DE PEDRA
Um frade
andava ao peditório; chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar
nada. O frade estava a cair com fome, e disse:
– Vou ver
se faço um caldinho de pedra.
E pegou
numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se
era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela
lembrança. Diz o frade:
–
Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
– Sempre
queremos ver isso.
Foi o que
o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
– Se me
emprestassem aí um pucarinho.
Deram-lhe
uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
– Agora
se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
Deixaram.
Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
– Com um
bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
Foram-lhe
buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que
via. Diz o frade, provando o caldo:
– Está um
bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
Também
lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:
– Agora é
que com uns olhinhos de couve ficava que os anjos o comeriam.
A dona da
casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras.
O frade limpou-as, e ripou-as
com os dedos deitando as folhas na panela. Quando os olhos já estavam
aferventados disse o frade:
Trouxeram-lhe
um pedaço de chouriço;
ele botou-o à panela, e enquanto se cozia, tirou do
alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um
regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de despejada a panela ficou a pedra no
fundo; a gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
– Ó
senhor frade, então a pedra?
Respondeu
o frade:
– A pedra
lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim
comeu onde não lhe queriam dar nada.
O
moral da história é que: “Trabalhando
juntos, com todos contribuindo da melhor forma que puderem, o bem comum é
alcançado”.
Sem dúvida alguma este conto de
esperteza ou artimanha, se assim o preferirem, nos leva a refletir sobre os
princípios e conceitos utilizados por algumas pessoas que se destacam devido à
sua habilidade em transformar dificuldades em êxitos.
Assim, utilizar
alguns princípios dessa lenda pode nos ajudar a buscar o equilíbrio interior, a
prosperidade e o sucesso, sempre lembrando que o ato de compartilhar pode beneficiar a
todos, desde que saibamos usar “os
ingredientes que temos em mãos” e “criar caminhos” que nos ajudem a encontrar
“ingredientes” que possam engrossar e completar
“o caldo nosso de cada dia”.
Fonte:
Extraído de Contos Tradicionais do Povo Português, 1883, Teófilo Braga.Tags:
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