"...Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar.
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar.
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar.
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar.
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar.
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto..."
O processo de emigrar está sempre ligado à ideia de retornar para o ponto de partida — a Terra Natal — ou seja, migrar, ganhar dinheiro, retornar e melhorar não só sua condição financeira, como também social.
Muito embora saudoso de tudo o que deixou para trás — raízes, família e amigos — tem conhecimento, ou pelo menos pensa, que levará um bom tempo para construir um novo espaço, estabilizar-se e, geralmente é um tempo mais largo do que imagina.
Nesse processo de adaptação, aprende que tem que trabalhar como nunca há trabalhado; que tem que dançar, mesmo que nunca tenha dançado; que tem que cantar o mais alto que puder, como se ninguém o estivesse ouvindo — por que quem canta seus males espanta, já dizia minha avó — que tem que escutar com todos os sentidos de seus corpo, o que seus ouvidos não ouvem para poder entender e se fazer entender, e acima de tudo tem de convencer a si mesmo que ali — onde está — é seu novo lar, o paraíso, pois sabe que só assim sobreviverá.
Pra longe vai o imigrante
Pra outra terra distante
Outro caminho a seguir
Mal ele sobe ao navio
Ao coração da-lhe o frio
Das saudades que já tem
E olhando o lenço branco
Que se agita vem-lhe o pranto
E acena pra ninguém...
À medida que o tempo passa vai substituindo os velhos hábitos pelos costumes da terra prometida. Envolve-se de tal forma que até passa a agir como um cidadão, muito embora, no seu subsconsciente, saiba que não passa de um imigrante a mais.
Mas isso com o tempo já não dói tanto e, afinal, ele até consegue interagir com o garçon, com o carteiro, com o lixeiro, com o segurança, e às vezes chega a pensar: Consegui!!! Já posso me considerar um deles!!!
Mas isso com o tempo já não dói tanto e, afinal, ele até consegue interagir com o garçon, com o carteiro, com o lixeiro, com o segurança, e às vezes chega a pensar: Consegui!!! Já posso me considerar um deles!!!
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Mas como sempre há um " MAS” para atrapalhar qualquer idílio! Segundo o dicionário , MAS significa dificuldade, obstáculo, senão e, no caso do imigrante ele percebe que sempre haverá a palavra "MAS” — ele é, e continuará sendo o eterno estrangeiro — e como tal não tem como fugir do estereótipo criado: Emigrado! Emigrante! Imigrante! Estrangeiro! Brasileiro! Italiano! Português... !!!
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Desamparado pelas rupturas sociais com a antiga pátria e, aliado às dificuldades linguisticas e seu estado migratório, sente-se marginalizado, apartado na terra onde aportou e rejeitado na terra onde nasceu. Já não tem nome.... não tem profissão... apenas é conhecido pela nacionalidade, enfim, um estrangeiro.
O imigrante continua sua luta, mas a dor em seu peito não quer calar, e o desejo de voltar para sua pátria continua latejando em sua mente e de repente ele se ve cantando a mesma canção que ouvia seus vizinhos — imigrantes — cantarem aos quatro ventos:
O imigrante continua sua luta, mas a dor em seu peito não quer calar, e o desejo de voltar para sua pátria continua latejando em sua mente e de repente ele se ve cantando a mesma canção que ouvia seus vizinhos — imigrantes — cantarem aos quatro ventos:
"Seu Cabral vinha navegando,
quando alguém logo foi gritando:
TERRA À VISTA! Foi descoberto o Brasil,
e a turma gritava: Bem-Vindo seu Cabral!
Mas Cabral sentiu no peeeito....
uma saudade sem jeeeeeitoooo.... :
Vou voltar pra Portugal .......”
Ah, mas a saudade continua machucando.... a solidão insiste em não ir embora... tudo vai se tornando mais e mais vazio... sem sentido.... e começa a se questionar!!! Mas, ao mesmo tempo sabe que não pode perder tempo ...por que o dia que ele voltar, ah, o dia em que ele voltar...
” .... Neste instante que vivo a esperar na minha grande solidão
e nos sonhos eu consigo transformar
o frio piso do meu quarto nos verdes campos do lugar.
E revivo os momentos de alegria ,
com meu amor a passear nos verdes campos do meu lar...”
Uma vez mais as lágrimas rolam.... e os soluços se misturam com as palavras e as imagens de tudo o que deixou para trás voltam como se fosse um filme e, é neste momento, que o imigrante toma consciência de uma realidade dolorida... indiscritível... e percebe que nao só o tempo passou rápido, como também, os amigos passaram, cresceram, mudaram, talvez alguns morreram, enfim tudo seguiu o curso da vida!!!
O lugar onde havia uma praça virou um Shopping — coisa de primeiro mundo — tem até cinema; onde tinha um pequeno lago , agora é um condomínio fechado – coisa de rico — e aonde havia o barzinho do seu Joaquim, agora é um Flat hotel — um luxo!; e, é nesse momento que aprende a lição mais dura de sua vida que quando se vai tanto acolá, ou aqui, ou lá, a volta é algo que não existe!!!
Já não há casa... já não há os amigos... nada é como era... já não é de lá, nem muito menos de cá... perdeu o espaço — que nem dizia minha avó: quem foi ao mar perdeu seu lugar! — e, de repente, percebe que o que existe é uma saudade eterna, insuperável, de tudo o que foi e que não é mais, e que nunca voltará a ser o que era ...
“ Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia,
tudo passa, tudo sempre passará,
a vida vem em ondas como um mar,
num indo e vindo infinito.
Tudo o que se vê não é igual
ao que a gente viu há um segundo,
tudo muda o tempo todo no mundo,
não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo...”
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Alguns imigrantes — principalmente os mais jovens — ainda podem encher a boca e cantar e, os mais atrevidos, até ensaiam uns passinhos de samba :
“...Se um dia
Meu coração for consultado,
Para saber se andou errado,
Será difícil negar...
Sentí meu coração apressado
Todo meu corpo tomado,
Minha alegria voltar
Não pude distinguir daquele azul,
Não era do céu nem era do mar,
Foi um rio que passou em minha vida,
E meu coração se deixou levar...”
Para outros, embora a vontade de voltar predomine em suas mentes, numa visita à Pátria — na localidade em que viviam — percebem que o panorama não é tão atraente e, ficam indecisos: ficar ou voltar?
Ainda que, alguns deles tenham algumas possibilidades financeiras, como integrar-se na vida do país de onde partiram à tantos anos e ainda enfrentar a incerteza de perder “o pouco” que custou tanto a conquistar na terra prometida?
Sarando calos duma vida feita a sal,
Espelhos da alma no rosto, sentimento,
Da saudade a que chamamos Terra Natal.
Valerá o desabafo de quem diz,
Que o amanhã doutra forma será feito?
Resta porém em nós
o amor por um país,
Que levamos aonde formos, sempre no peito!...
— autor desconhecido
Para mim? Ainda estou levando de teimosa... ou quem sabe até insistindo de pirraça... aprendendo a engolir sapo... ou talvez ainda haja um “restinho de orgulho”... Às vezes, ainda me vejo usando aqueles velhos chavões: Vamos esperar mais um pouco! O pior já passou!!! E, é nessas horas que me vejo sussurando uma velha canção:
....Recolhe meu pedaços
Me acolhe nos teus braços...
Perdi pela viagem, as forças e a coragem,
A imagem do que eu sou,
O que escondeu a última verdade
O que perdeu a única metade...
O que partiu e desertou...
Vou esquecer a inútil liberdade
Que eu sonhei ver nas luzes da cidade...
Temos a internet... é só dar um clique e rapidinho ficamos sabendo de tudo o que está acontecendo... a Sandrinha casou, o Sr. Joaquim morreu, a Terezinha já divorciou duas vezes e o filho do seu Manuel, até virou médico, sem contar que aquela chata da Célia continua fazendo fofoca de todos e se acha a tal... ah, ia esquecendo a Liliana continua a mesma... sempre vítima... sempre manipulando o marido, os filhos, os netos e até mesmo os amigos, pode!!!
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Num simples clicar, nos atualizamos e descobrimos que tudo continua a mesma coisa... o pobre continua empobrecendo, o rico continua enriquecendo da noite para o dia e, tudo isso totalmente free! E, é claro — talvez pra dissimular — me vejo cantarolando uma outra canção:
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“... O que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades...
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro...
Ninguém segura esse rojão...”
Pode-se dizer que a vida, para alguns imigrantes — a minoria — é como as andorinhas, que voltam todos os anos, ao mesmo ninho e quando a lei da vida os levar, ficarão os filhos a frequentar esse mesmo ninho até que os laços de cultura e tradição, que os une à Pátria dos seus antepassados, sejam esquecidos por completo, assimilados pelo país onde vivem; enquanto, para outros — a maioria — ainda existe o “MAS”, essa palavrinha mágica que ensina dia após dia que muito embora a tecnologia tenha ajudado a contornar alguns obstáculos — diminuindo um pouco a nostalgia — existem outros que são intransponíveis e torna o imigrante “um prisioneiro” da terra prometida.
Se tem dinheiro, muitas vezes não tem Visa — então não podem sair do país e, se tem Visa, muitas vezes não tem dinheiro para viajar. É aí que a história se repete e, acredito que é nessa hora que todos nós imigrantes jogamos toda a saudade, a nostalgia, cantando e gritando o mais alto possível:
Se tem dinheiro, muitas vezes não tem Visa — então não podem sair do país e, se tem Visa, muitas vezes não tem dinheiro para viajar. É aí que a história se repete e, acredito que é nessa hora que todos nós imigrantes jogamos toda a saudade, a nostalgia, cantando e gritando o mais alto possível:
à minha terra eu voltar,
quero encontrar
as mesmas coisas que deixei......
De rever a terra em que nasci
E correr como em criança
nos verdes campos do lugar ...”
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Imigrante ─ Ficar ou Voltar!!!
Texto enviado por: Iria Maria Assis