Hoje, a
tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta e
entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o impossível
para evitá-la adentrar os meus domínios. E quando isso acontecia, discutíamos
demoradamente. Era uma experiência desgastante.
Quando me dou por conta, o recinto está vazio. Ela partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua missão sem afetar minha vida.
Hoje, a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros
propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em minha
garganta e foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a mesma:
amoxicilina e paracetamol.
Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado! Acho que é por isso que os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e qualquer vida...
Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado! Acho que é por isso que os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e qualquer vida...
Hoje, problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone porque
palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e, depois, perdem-se
difusas, levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos em papel e letras
de baixa qualidade, anunciando sua perenidade, sua condição de fantasmas
eternos até que sejam exorcizados.
Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes
momentos. O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e o
equilíbrio que tanto se persegue. O desânimo comparece estampado em ombros
arqueados e olhos sem brilho, que pedem para derramar lágrimas de alívio.
Então, choro. E o faço porque Maurice Druon ensinou-me, através de seu inocente
Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no peito e o coração fica
duro.
Limão
e limonada
As ciências humanas estão sempre tomando emprestado das exatas, termos e
conceitos. A última novidade vem da física e atende pelo nome de resiliência que significa resistência ao choque ou a
propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo deformado é
devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.
Em humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir
flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal,
profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular: é fazer de cada limão, ou seja, de cada
contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada saborosa, refrescante e
agradável.
Aprendi que pouco adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não
ser destruído por eles, resolvendo-os. E com rapidez, de maneira certa ou
errada. Problemas são como bebês, só crescem se alimentados. Muitos se resolvem
por si mesmos. Mas quando você os soluciona de forma inadequada, eles voltam,
dão-lhe uma rasteira e, aí sim, você os anula com correção.
A
felicidade, pontuou Michael Jansen,
não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade
são grandes problemas bem administrados.
Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las,
identificá-las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem menos do que nos
falta e mais do mau uso que fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste
combate. Agir rápido é a palavra de ordem. Melhor do que ser preventivo é ser
preditivo.
Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos
ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que “tristeza não tem fim, felicidade, sim”. Porém, discordo. Penso que
os dois são finitos. E cíclicos. O segredo é contemplar as pequenas alegrias em
vez de aguardar a grande felicidade. Uma alegria destrói cem tristezas.
Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo,
mas terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante
das dificuldades impostas ou autoimpostas que enfrentei pelo caminho,
transformando desânimo em persistência, descrédito em esperança, obstáculos em
oportunidades, tristeza em alegria.
Nós apreciamos o calor porque já sentimos
o frio. Admiramos a luz porque já estivemos no escuro. Contemplamos a saúde
porque já fomos enfermos. Podemos, pois, experimentar a felicidade porque já
conhecemos a tristeza.
Olhe para o céu, agora! Se é dia, o sol brilha e aquece. Se é noite, a lua
ilumina e abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a vida.
Só desfruta a alegria quem conhece a tristeza!
Título original: Resiliente — Limão e Limonada
Texto de Tom Coelho ( Consultor, professor universitário, escritor e palestrante)
Blog Saltitando com as Palavras
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