Vivemos num mundo com uma grande
diversidade de gostos e opiniões, no entanto, uma delas é quase unânime para a
maioria das pessoas: não gostar da segunda-feira. Em verdade, se avaliarmos bem, nossas segundas-feiras
são tão estressantes quanto os demais dias úteis da semana, com exceção da
sexta, porque dá início a
outro final de semana! Aliás, é também pela proximidade com a segunda-feira ou
com o trabalho em si que as pessoas costumam não ser tão fãs das noites de
domingo.
Mas verdade seja dita, pelos excessos dos fins de
semana, após aquele churrasquinho, a
pipoca do cinema, as cervejas, os refrigerantes, a pizza, o pastel na
barraquinha de praia, aquele brigadeiros
e tudo mais que nos damos direito a comer, é natural que nos sintamos menos
saudável, cansados e mal-humorados às
segundas-feiras.
Agora, cá entre nós, quem nunca disse que iria começar
uma nova dieta, ou parar de fumar, ou começar a correr, ou entrar para a
academia, ou procurar um novo trabalho etc., claro, quando? Na segunda-feira! Não resta dúvida que a angústia em relação às
segundas está ligada ao voltar para obrigações ou ao protelamento de decisões, já
que, em princípio, a segunda-feira tem “sinônimo” de (re)começo.
E porque hoje é segunda-feira nada melhor do que ler e
reler a crônica de Adriana Falcão sobre segunda-feira.
Toda segunda-feira
começa cedo mesmo que se acorde tarde.
As segundas, aliás,
começam quase sempre na véspera, "amanhã já é segunda", (toda noite
de domingo traz com ela, além da depressão habitual e do som de uma TV ligada,
uma segunda-feira inevitável).
Toda segunda, há
uma promessa a ser cumprida, pelo menos uma, muitos ônibus lotados, atrasos
motivados pelos mais diversos motivos e um alto índice de enfartes.
Toda segunda tem a
esperança de um telefonema que mude a sua vida, tem um papel pra ser assinado,
tem uma prestação pra se botar em dia e tem uma importante decisão a ser
tomada.
Toda segunda tem um pouquinho de primeiro
do ano.
Toda segunda um
cantor de bar fica rouco, um bailarino está exausto, um artista de teatro
aproveita sua folga até a próxima quarta e a namorada de um garçom capricha na
lavanda.
Toda segunda, um
homem que bebe procura urgentemente uma desculpa.
Toda segunda tem
alguém que parou de beber, tem alguém que parou de fumar, tem alguém começando
uma dieta.
Toda segunda, em um
prato, em uma cozinha, tem um resto de bolo de chocolate.
Toda segunda, as
agendas das garotas acumulam novos ingressos de show, notinhas de bar, pétalas
de flor, guardanapos de papel, bilhetes de amor e ficam ainda mais gordas.
Em compensação, as
folhinhas, se é que ainda existem folhinhas, vão ficando mais magras.
Toda segunda tem
pelo menos um bom dia que é dito com alegria por alguém que encontrou o seu
amor no final de semana, e pelo menos um que é dito com tristeza por alguém que
perdeu o seu, ou porque ele se foi, ou porque o amor perdeu a graça.
Toda segunda,
secretárias com muitas aventuras pra contar deixam os chefes malucos atrás de
documentos, relatórios e cronogramas.
Toda segunda os
desenganados têm mais um domingo pra contar e os infelizes da vida ficam
contentes porque têm menos um domingo pela frente.
Toda segunda alguém
começa uma contagem regressiva.
Toda segunda uma
expectativa se estabelece.
Toda segunda um
prazo se esgota.
Segunda sim,
segunda não, já se passou uma quinzena e alguém continua esperando alguma coisa
que não chega nunca.
Toda segunda existe
um trabalho chatíssimo pra fazer, a não ser que, sorte a sua, seja feriado.
Toda segunda é
ensolarada, mesmo as mais chuvosas, só para arruinar o humor da humanidade.
Toda segunda é
igual à outra, menos se o seu time ganhou, se o despertador não tocou, se o seu
filho nasceu ou se um terremoto destruiu a cidade.
Toda segunda nascem não sei quantas
crianças, umas de parto normal, umas de cesariana, e todas elas, benza Deus,
segunda que vem vão completar uma semana.
Toda segunda faz um
ano exato que um fato qualquer aconteceu e para alguma pessoa, por algum
motivo, isso tem uma enorme importância.
Toda segunda é meio
lembrança, meio começo, meio cansaço, meio maçante, meio preguiça, meio
esperança.
Toda segunda tem
alguma coisa ruim, alguma coisa boa, e uma péssima fama.
Fonte:
Crônica extraída do livro “O Doido da Garrafa” de Adriana Falcão.
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Crônica extraída do livro “O Doido da Garrafa” de Adriana Falcão.
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